Adaptado da matéria de
Danilo Venticin - na revista Época
31 de dezembro é dia de fazer promessas para o ano que vem – e de lembrar, com alguma vergonha, das promessas que não conseguimos cumprir. Sedentários correm maratonas imaginárias. Comilões planejam dietas para a primeira segunda-feira do ano. Estressados prometem relaxar mais, embora as praias e estradas lotadas não ajudem. Todos se unem no exercício esperançoso de acreditar, ao menos por alguns dias, que 2015 será melhor.
Os apaixonados por livros não escapam dessa regra. Em 2015 leremos mais e melhor. Desbravaremos clássicos que nunca ousamos abrir e ainda teremos tempo para não perder os principais lançamentos. Ao menos é nisso que acreditamos hoje. Eu, ao menos, acredito. Divido com os leitores da coluna minha lista de promessas para o próximo ano. Para os que quiserem segui-las comigo e também para os que quiserem usá-la contra mim no fim de 2015, quando eu terei inevitavelmente fracassado. Aproveito para convidá-los para compartilhar suas promessas literárias na caixa de comentários. Que ao menos algumas delas sejam cumpridas. E que em 2015 a leitura continue a nos dar prazer.
1. Ler todos os dias, sem falta
A recompensa é proporcional ao esforço. Há quem simplesmente prometa ler mais. Há quem estabeleça uma quantidade mínima de livros para terminar no ano. São boas promessas, mas costumam falhar. Tornar a leitura um hábito diário é uma maneira de cumprir todas essas metas. Se você for seguir apenas uma resolução literária para 2015, que seja essa.
2. Espalhar mais livros
Isso não pode se repetir em 2015, ok?
3. Conter o consumismo
Comprar livros é um vício quase tão prazeroso quanto ler. A maioria dos leitores que conheço costuma comprar mais livros do que é capaz de ler. O resultado são estantes abarrotadas, carteiras vazias e um vago sentimento de culpa. Resistir a todas as tentações é impossível. Continuaremos comprando livros em 2015. Mas não custa nada tentar conter os impulsos consumistas e lembrar que os livros precisam ser lidos. Não há diferença objetiva entre um livro parado na livraria e um livro parado na estante de casa.
4. Formar novos leitores
Podemos reclamar do governo, dos currículos escolares, da formação dos professores, dos preços dos livros e da falta de bibliotecas. Não faltam motivos para que a leitura não seja um hábito tão difundido no Brasil. Muito ainda precisa ser feito, mas os leitores podem ajudar. Em 2014, apresente os livros para alguém que ainda não tem o hábito de ler. Se cada leitor converter apenas um não-leitor por ano, em pouco tempo seremos um país de leitores.
5. Redescobrir o Brasil
O drible, de Sérgio Rodrigues, e Fim, de Fernanda Torres, foram paixões tardias para mim em 2013 (ano em que este artigo foi escrito). Ao lado de outros lançamentos recentes, esses livros provam que a ficção brasileira contemporânea é boa e acessível o bastante para sair das panelinhas e conquistar um público maior. A literatura fantástica continua num excelente momento: autores como Eduardo Spohr, Raphael Draccon e Carolina Munhóz conquistaram um público fiel e devem continuar fazendo sucesso por muitos anos. Os livros infantojuvenis de autoras como Thalita Rebouças e Paula Pimenta continuam a vender centenas de milhares de cópias e cativar novos leitores. 2013 foi um ano excelente para a literatura brasileira. Que em 2014 os escritores brasileiros percam definitivamente a vergonha de vender, e que os leitores não tenham vergonha de comprar seus livros.
6. Conversar mais sobre livros
A leitura é um hábito solitário e silencioso, mas o silêncio e a solidão precisam ser interrompidos de vez em quando. Para quem está acostumado a guardar para si as alegrias da literatura e as divagações que os livros provocam, o próximo ano é uma chance de dividir essa paixão. Há outros leitores espalhados por aí. Descubra-os. Fale com eles. Cada conversa ajuda a reforçar o hábito da leitura, descobrir novos autores e compartilhar os livros que amamos.
7. Cumprir as promessas do ano passado
As melhores resoluções de Ano Novo são renováveis. Talvez você não tenha cumprido algum item da sua lista para 2014. Talvez tenha falhado em todos eles. Não importa. 2015 acolherá todas essas promessas – e mais outras, se estiver disposto a fazê-las. Nesse quesito, os leitores têm uma enorme vantagem sobre os comilões ou sedentários. O tempo é implacável: a cada ano que passa é mais difícil entrar em forma. Conosco, o efeito é o contrário. Os anos de leitura nos transformam em leitores melhores. Se você não conseguiu vencer aquele clássico da literatura este ano, estará mais preparado no ano que vem. Se não cumpriu suas metas de leitura, pode tentar novamente agora, com mais experiência. Quanto mais listas de resoluções de Ano Novo fazemos, maior é a chance de conseguirmos realizá-las. Jamais conseguiremos ler todos os livros que queremos, mas é um consolo saber que a cada ano estamos um pouco mais perto dessa meta inatingível. Não devemos deixar de acreditar em nossas promessas para 2015. O tempo está a nosso favor.
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