O dia em que fui salva pelos Bombeiros




Por Juçara Menezes // 

Faz um bom tempo que não chovia em Manaus, sabem? E estou a pensar seriamente em água... em chuva... até três banhos eu tomo por dia, tá pra ti?

Lembrei, sabe-se Deus porquê, do dia em que me perdi na praia, cujo nome nunca soube.

Era um feriadão em Belém-PA quando mamãe se sentou na areia, com sua toalha e guarda-sol e começou a ler o jornal, deixando a pequena ao lado para fazer um castelo de areia. Eu era pequena mesmo, tinha no máximo dois anos.

Um feriado prolongado, devia ser, pela imensa quantidade de pessoas no lugar... A vida passava tranquila, com as crianças fazendo arquiteturas de areia (o meu devia ser do Vingador...) e jogando futebol, aperriando os mais velhos...

Quando de repente, e não mais que de repente, o povo ouve a sirene louca dos Bombeiros!!

Aí a minha mãe olha pro lado e vê o vazio... Cadê a menina???

Correm todos para os lados e a primeira coisa que ela lembra é: ela tem medo de água, então não foi pra lá (que vergonha...).

Os Bombeiros chegam mais perto. Todos olham ao redor e pegam seus pimpolhos pela mão, ou vão buscá-los na água... Menos a minha mãe.

De repente, e realmente não mais que de repente, ela resolve ir até o carro vermelho e de lá de cima vê aquele ser que mais parecia duas bolinhas em cima da outra (a barriga e as bochechas).

Sim, era eu este ser que pulava em cima do ombro do nobre profissional, juntamente com as marias-chiquinhas, uma de cada lado, com cara emburrada de choro...

Mamãe sobe e sai gritando. Começa o diálogo:

- É sua filha, senhora?

- Sim, senhor, muito obrigada, oh! Muito obrigada!!

- A senhora num sabe que tem muita gente na praia?

- Sim, senhor, muito obrigada, oh! Muito obrigada!!

- Sabia que ela podia estar na água uma hora dessas???

- Sim, senhor, muito obrigada, oh! Muito obrigada!!

- De repente a gente estava era indo pro hospital, e não aqui!!

- Sim, senhor, muito obrigada, oh! Muito obrigada!!

- Veja se agora preta mais atenção e num deixa ela por aí!!

- Sim, senhor, muito obrigada, oh! Muito obrigada!!

- Num pode ser irresponsável desse jeito e...

- Sim, senhor, muito obrigada, oh! Muito obrigada!!


(Contada por minha própria mãe: O Bombeiro ficou uns bons cinco minutos me esculhambando. Num parava de brigar comigo. Achei que ia apanhar, mas estava tão feliz que nem ligava...)
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