Os detetives de Agatha Christie


Miss Marple - Hercule Poirot - Parker Pyne - Tommy & Tuppence


Hercule Poirot


Pouco antes da Segunda Guerra Mundial eclodir, Agatha iniciava sua carreira literária com The Mysterious Affair at Styles. Uma das suas principais dificuldades foi criar o detetive, para isso a jovem autora inspirou-se em um belga que estava hospedado em Torquay, e criou Hercule Poirot um detetive de 1,60 m, que resolve seus casos usando as células cinzentas, e que é muitas vezes comparado a Sherlock Holmes.

Por que não seria belga meu detetive? Deixei que crescesse como personagem. Deveria ter sido inspetor, de modo a poder ter certos conhecimentos sobre crimes. Seria meticuloso, ordenado, pensei com meus botões, enquanto arrumava meu quarto. Um homenzinho bem ordeiro. Parecia-me até que o via, um homem muito alinhado, sempre cuidando de colocar tudo no devido lugar, amante dos objetos aos pares, das coisas quadradas, e não redondas.  E seria muito inteligente — teria muitas células cinzentas —, essa era uma boa frase, devia recordá-la: ele possuiria não poucas células de matéria cinzenta. Seu nome seria espetacular — um desses nomes como existiam na família de Sherlock Holmes. Como era mesmo o nome do irmão dele? Mycroft Holmes!  E se chamasse ao meu homenzinho Hercules? Ele seria um homem baixo — Hercules seria mesmo um bom nome. Seu sobrenome era mais difícil. Não sei por que me decidi por Poirot. Se fui eu própria quem o inventou, ou se o vi em algum jornal, ou escrito em algum lugar, não sei — mas assentei que seria esse o nome. Combinava bem, não com Hercules, com s, mas sim com Hercule — Hercule Poirot. Estava certo, assente, graças a Deus!(...)

Poirot fez sua primeira aparição em O Misterioso Caso de Styles, chamado por seu amigo Arthur Hastings. Começou sua carreira como oficial de justiça, mas passou a atuar como detetive particular e auxiliar a polícia em casos complicados. O personagem já protagonizou diversos filmes e ganhou sua própria série de TV, Agatha Christie's Poirot onde é interpretado por David Suchet (foto)

Miss Jane Marple

Não houve maldade em Miss Marple, ela simplesmente não confiava nas pessoas. Embora ela esperasse o pior, muitas vezes ela aceitou gentilmente as pessoas, apesar do que eles eram.
— Agatha Christie.

Miss Marple não se parece em nada com um detetive, mas, para uma solteirona que nunca saiu de St. Mary Mead, ela é surpreendentemente astuta. Jane Marple resolve seus crimes de uma forma muito diferente de outros detetives: ela não faz interrogatórios, não procura pistas, só usa o seu conhecimento da natureza humana.

Para criar Miss Marple, Agatha Christie se baseou tanto na vida real como em suas próprias obras. Na vida real, pelo seu grande interesse por velhas solteiras que, mesmo vivendo em pequenas aldeias, possuíam um conhecimento extraordinário acerca do comportamento humano. Já na ficção ela usou a solteirona Caroline Sheppard, de O Assassinato de Roger Ackroyd, que auxiliou Hercule Poirot na solução do mistério em questão. Quando 'O Assassinato' foi adaptado para o teatro por Michael Morton, ele substitui Caroline Sheppard por uma jovem, por isso Agatha resolveu dar uma voz às solteironas, e criou Miss Marple.

Miss Marple fez sua primeira aparição em The Tuesday Night Club, um conto publicado na revista The Sketch, em 1926. Já sua primeira aparição em um romance se deu em 'Assassinato na Casa do Pastor'. Na literatura, Marple protagonizou 12 romances e 20 contos, que iam desde a pitoresca Inglaterra rural de 'Um Corpo na Biblioteca' até o glamour de 'O Caso do Hotel Bertram' e uma ilha em 'Mistério no Caribe'.

Muitas atrizes interpretaram Miss Marple na TV e cinema, Gracie Fields foi a primeira, na versão televisiva de A Murder is Announced, em 1956. Margaret Rutherford interpretou Miss Marple em quatro filmes da MGM vagamente baseados na obra de Agatha, e também em The Murder Alphabet, ao lado de Tony Randall, que interpretou Poirot. Helen Hayes, vencedora de dois Oscares, interpretou Marple em A Caribbean Mystery de 1983 e They Do It with Mirrors de 1984. Joan Hickson foi Miss Marple nas adaptações da BBC nos anos 90. Joan havia interpretado uma empregada em Murder, she Said, que tinha Rutherford como Marple. Por fim Geraldine McEwan interpretou a detetive nas adaptações da ITV em 2004, sendo substituída por Julia McKenzie em 2009.

Tommy e Tuppence

Apenas após a Primeira Guerra Mundial que os jovens Tuppence Cowley e Tommy Beresford criam a "Jovens Aventureiros Ltd.". Ao todo, o casal de jovens participou de 5 livros da autora, entre eles uma coletânea de contos: 'O Inimigo Secreto', 'M ou N?', 'Um Pressentimento Funesto', 'Sócios no Crime' e 'Portal do Destino'.

Agatha descreve Tommy como agradavelmente feio, mas inequivocamente um cavalheiro e é considerado lento, o contraponto perfeito à impetuosidade de Tuppence. Os amigos casam-se no final do primeiro livro e têm três filhos: os gêmeos Derek e Deborah, e a filha adotiva Betty. 'Partners in Crime' virou uma série de televisão em 1984, indo ao ar pela LWT, tendo James Warwick como Tommy e Francesca Annis como Tuppence, a série levou ao ar 10 dos 15 contos pertencentes ao livro. O casal voltou no filme The Secret Adversary, de 1985.

Este ano, Partners in Crime será regravado pela BBC One

Parker Pyne

O detetive Parker Pyne surgiu em 1934 no livro de pequenos contos Parker Pyne Investigates.

Pyne não se considerava um detetive, mas sim um especialista em coração, cuja especialidade era curar a infelicidade das pessoas. Ele anunciava seus serviços nos classificados do Times, onde convidava os leitores infelizes a o visitarem na Richmond Street, 17. Os primeiros seis contos com Parker Pyne, são casos simples ocorridos em Londres, posteriormente, histórias mais complexas, como uma viagem ao Oriente Médio em pleno Orient Express (de Assassinato no Expresso do Oriente), ser conselheiro de testamentos, Pyne chega até mesmo a fazer um cruzeiro pelo Nilo.



Posteriormente, Pyne aparece no livro The Regatta Mystery, que também possui histórias de Hercule Poirot e Miss Marple. O detetive, ou melhor, médico do coração, é descrito como um homem gordo, careca, por volta de seus 60 anos, possui uma teoria segundo a qual existem 5 tipos de infelicidade, mas todas elas têm cura. Pyne usa métodos nada tradicionais e engenhosamente engana os suspeitos e cura a infelicidade. E em algum momento, as histórias de Parker Pyne e Hercule Poirot se cruzam, Mrs. Ariadne Oliver, amiga de Pyne, auxilia Poirot em alguns crimes.

Ariadne Oliver

Ariadne Oliver apareceu pela primeira vez no conto The Case of the Discontented Soldier, parte da coletânea Parker Pyne Investigates, como uma amiga do investigador Parker Pyne. Começando como uma simples escritora de mistério, Ariadne chega a participar de 6 romances com o próprio Hercule Poirot, começando por Cards on the Table.

Ariadne, ao contrário de Miss Marple, é muito mal-humorada e considera que a Scotland Yard seria melhor gerida por uma mulher. Nela, podemos encontrar muito de Agatha Christie, uma vez que, além de ser escritora de romances policiais, Oliver ainda possui uma certa antipatia por seu personagem Sven Hjerson, assim como Agatha, em diversas situações demonstrou sentir por Poirot. A detetive, também já apareceu nas telas, começando pelo filme Dead Man's Folly de 1986, adaptação do romance homônimo, onde é interpretada por Jean Stapleton, e também contracenou com David Suchet, em episódios recentes de Agatha Christie's Poirot, como é o caso de Cards on the Table, que foi ao ar em 2005.

Detetives por acaso 
Alguns dos mais famosos livros de Agatha não são protagonizados nem por Poirot ou Miss Marple, nem mesmo pelo casal Tommy e Tuppence ou Ariadne Oliver. São pessoas comuns que de alguma forma são empurradas para um mistério29 Um bom exemplo deste tipo de detetive, Dr. Arthur Calgary, de Ordeal by Innocence (Punição para a Inocência, no Brasil), no romance, o médico, ao retornar da Austrália, descobre um álibi, de um homem condenado injustamente, e são as diversas pistas encontradas por Calgary, que o levam a desvendar um assassinato.30

Já em Why Didn't They Ask Evans? (Por que não Pediram a Evans?, no Brasil), Agatha forma uma dupla de investigadores bem diferentes de Tommy e Tuppence, formada pelos amadores Bobby Jones e Frankie Derwent, que além de tudo, são bem atrapalhados e caem em algumas armadilhas de seus inimigos, mas mesmo assim conseguem solucionar o mistério colocado em seu caminho.

Além disso Endless Night e The Pale Horse, são protagonizados por amadores, e ainda por cima em 1ª pessoa. Em Endless Night (com o título "Noite sem fim" na edição do Brasil), o jovem Michael Rogers tenta desvendar o assassinato de sua esposa Ellie. Já The Pale Horse, talvez seja um dos livros mais singulares de Agatha nele, Mark Easterbrook, tenta desvendar uma série de assassinatos, envolvendo supostas bruxas e um misterioso cavalo amarelo.33

E em "O Mistério dos 7 Relógios", a intrigada Bundle Brent, filha do displicente Lord Caterham, ao vir dois amigos dela serem mortos por uma suposta sociedade secreta, procura desvendar tais desfechos junto com a ajuda do Superintendente Battle, policial que a aconselha a se precaver de alguma represália desta seita formada por estranhos 7 personagens, alguns deles infiltrados na trama. Sua perspicácia envereda para chegar à solução do mistério sem recorrer a células cinzentas ou a estudos comportamentais presentes em Poirot ou Jane Marple, respectivamente.
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