O processo de criação de Agatha Christie



Greenway House, onde Agatha Christie viveu por algum tempo. (Imagem: National Trust/PA)

Antes de começar a escrever, Agatha Christie precisou definir um estilo próprio. Segundo ela mesma, é difícil para um jovem escritor iniciar sua carreira sem copiar, mesmo que minimamente, o estilo de seus ídolos. Ela considerava iniciar uma obra como algo francamente difícil e que, muitas vezes, ficava horas encarando a máquina de escrever e mordiscando um lápis, esperando uma ideia, o que lhe dava intenção de desistir, mas a autora dizia ser encorajada pelo marido Max Mallowan a continuar.

Em qualquer lugar, Agatha recebia inspiração para escrever. Possuía um caderno, que levava sempre consigo para anotar suas ideias referentes a enredos, venenos fatais ou crimes que lia nos jornais. Em algumas ocasiões, chegou a provocar sua mente, dizendo que viveria com a obra até que ela estivesse pronta. Foi assim com O Assassinato de Roger Ackroyd: a escritora a todo momento ajustava os detalhes da trama. Agatha disse ter tido sensações parecidas com Lord Edgware Dies, cuja ideia surgiu-lhe na mente após ver um show de imitação de Ruth Draper.

Personagens para os romances surgiam da mesma maneira que os enredos. A autora dizia criar personagens para si mesma e ser capaz de escolher alguém em qualquer lugar, para servir de base para seus personagens fictícios, mas somente uma vez incluiu uma pessoa real em um de seus livros. Ernest Belcher, um ex-professor e também chefe de Archibald (o primeiro marido de Agatha), havia pedido à autora que o incluísse em um de seus livros, que veio a ser O Homem do Terno Marrom, usando a casa do mesmo como cenário para o assassinato. A autora negou a sugestão, mas criou Pedler, personagem baseada em Ernest, com seus maneirismos e frases.A autora dizia não considerar ter feito um bom trabalho, e por isso nunca voltou a incluir pessoas reais em seus livros.

Mas Agatha também incluiu algumas outras pessoas reais em seus livros, como Ariadne Oliver (A noite das Bruxas), Lady Nancy Astor (a primeira mulher a ser membro do Parlamento), Lady Westholme (em Appointment with Death) e Katherine Woolley (esposa do Dr. Leonard Wooller, arqueólogo que trabalhou com Max Mallowan) em Murder in Mesopotamia.

Em sua autobiografia, a autora diz que o grande prazer em escrever histórias policiais é que há vários gêneros a escolher:

"(...) a história policial intrincada, com um enredo complicado, tecnicamente interessante e que requer muito trabalho, mas é sempre compensadora e, ainda, o que posso descrever como a história policial que tem como pano de fundo uma espécie de paixão: nesse caso, é a paixão o que ajuda a salvar a inocência. Porque é a inocência que importa, não a culpa.(...)"

Também em sua autobiografia, Agatha diz se assustar que as pessoas não se preocupam com as vítimas e sim com os culpados quando leem um romance policial. Diz ainda que conseguiu se satisfazer completamente com uma história, quando escreveu O Caso dos Dez Negrinhos, que lhe custou muito planejamento, já que era difícil desenvolver tantas mortes num só livro e não querer que o assassino seja óbvio, mas que a ideia lhe fascinara profundamente. Agatha também mencionou que nunca pensou seriamente sobre o crime, mas que escrever sobre ele lhe levou a um estudo mais detalhado da criminologia.

A execução das obras


Quarto do Pera Palas Hotel em Istambul, na Turquia onde Agatha escreveu Assassinato no Expresso do Oriente.

Desde o começo Agatha contou com a ajuda de sua secretária, Charlotte Fisher, que escrevia aquilo que a autora ditava. Segundo sua autobiografia, Agatha se sentia insegura no começo, não conseguia dizer frases completas sem hesitar, passou mais de uma hora tentando iniciar a obra e que a própria Charlotte, apesar de ser secretária estenógrafa estava nervosa e com medo de que Agatha ditasse de forma muito rápida.

Quando um repórter visitou a casa de Agatha Christie e perguntou-lhe onde ela escrevia, Agatha diz ter sido difícil responder, já que ela escrevia em qualquer lugar. Ela escrevia na mesa de jantar, no lavatório e em qualquer outro lugar. A autora só exigia uma mesa resistente e uma máquina de escrever quando estava pronta para escrever um romance, já que até então ela escrevia a mão os primeiros capítulos de seus livros. Mesmo assim ela diz ter escrito entre "magias e explosões", pois nunca teve um quarto ou escritório reservado para escrever (até sua casa em Sheffield Terrace em Londres).

Muitos de seus livros foram escritos enquanto acompanhava o marido Max em missões arqueológicas. Escreveu Lord Edgware Dies enquanto esteve com o marido numa escavação em Nínive, no norte do Iraque. Ela dizia que poderia escrever em qualquer lugar desde que tivesse uma mesa resistente e uma máquina de escrever, porém a casa em que ficou, em Nínive não tinha uma mesa, e quando a autora pediu uma mesa ao chefe da escavação o Dr. Reginald Campbell Thompson, este negou prontamente, mas Agatha compraria a mesa de um jeito ou de outro.

A Rainha do Crime (como era conhecida) chegou a escrever um livro em apenas 3 dias, foi sob o pseudônimo de Mary Westmacott (a novela Absent in the Spring) que diz ter sido o único livro que a satisfez completamente, "o livro que sempre quis escrever", que desde o início já estava claro, em sua mente, pois já o estava planejando há sete anos.

Para escrever o livro, ela certificou-se primeiro de que não seria interrompida, e escreveu o primeiro e o último capítulo antes dos demais, porque já conhecia tão bem seu fluxo criativo que já sabia que iria poder desenvolver melhor sua história.

Agatha também já escreveu dois livros de uma só vez, foi assim com a novela de Miss Marple, 'The Body in the Library' e 'N or M?' de Tommy e Tuppence. Isso foi em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial (mesma época, aliás, em que ela escreveu Curtain e Sleeping Murder, os últimos livros de Hercule Poirot e Miss Marple, respectivamente).

Christie revelou em sua autobiografia que não tinha problemas em escrever durante a guerra, pois ela só precisava balbuciar as falas dos personagens, e imaginá-los caminhando no local que ela havia criado para eles.
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