O aniversário falso do papai

Por Juçara Menezes //

Ontem, dia 14 de março, foi o aniversário falso do papai. Digo falso porque meu avô, sem dinheiro quando papai nasceu, demorou três meses para registrá-lo. Como um bom mineiro, ele esperou um cadinho azim até vir a grana. Para não pagar multa, registrou o primeiro filho com data errada mesmo.

E daí que papai, muito espertamente, aplicava o golpe do aniversário DE NOVO e ai da gente que não lembra-se e nem trouxesse presente. À mim, a filha predileta, ele sempre me dava a tarefa mais difícil. Para se ter uma ideia, em um desses anos, ele me pediu um CD de 1979 da Elis Regina, só porque tinha UMA música que ele adorava.


Desde quando me tiraram do armário, meus irmãos mais velhos e minha mãe acham que sou ingrata por tudo. Papai só disse que me amava de qualquer jeito e não falou mais no assunto. Foi melhor assim, ele nunca me machucou por causa disso.


Tenho saudades daquela família – Papai, tia Hélia (minha madrasta) e Chico (o filho deles e meu irmãozinho) - que começou a ruir, para mim, quando decidi passar mais tempo com minha mãe. Acredito piamente ter sido esta a pior decisão que já tomei, mas não há como voltar atrás.


Perdi uma parte de mim quando minha tia partiu. Chorei como uma filha e assim me identifiquei a todos que me perguntavam. Meu pai me mostrou a foto na carteira: era eu e Chico lado a lado, ainda crianças.


Quando foi a vez de papai nos deixar, fiquei inconsolável. Não haveria mais apoio ou a certeza de ser amada. E esta tristeza se confirmou.

Saí de casa assim que pude e já fui acusada de tudo. A última é de ser ingrata e não ter ajudado quando deu. Mas ninguém se lembra de quanto me humilharam continuamente. E até hoje o fazem, como sempre com indiretas.

Minha família feliz acabou. Consegui montar uma outra. Ela é pequena e incompleta, mas é boa. E quase enfim eu sou feliz de novo.

Agora só tenho meu irmão caçula, que infelizmente não convivo porque está em Portugal, fazendo mestrado; minha filha que preferiu ficar com a avó; e minha Claudia, meu amor, minha companheira, meu único suporte saudável.

Chega. Hoje estou muito deprê… Foi mal aí...
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