Por Juçara Menezes //
Faz muito tempo que não escrevo nada aqui, mas vocês sabem como são as loucuras do dia a dia. Hoje, no Dia da Poesia, não pude resistir à tentação de postar algo em meu espaço.
Acontece que já fui poeta, ou poetisa?, e ainda me emociono quando leio rimas bem feitas. Dá vontade de sempre viajar nas palavras, e se afogar nelas mesmo, porque "Navegar é preciso!"
Tem coisa melhor que parar, no meio de um dia muito louco, e ver algo belo?
Vou chegar em casa e correr para Cecília Meireles de novo, em homenagem àquela mineira inspirada pela própria natureza.
Tenho um arquivo inteiro de poemas e, dentre eles, retiro algumas frases. É claro que tenho uns prediletos e este, O menino que carregava água na peneira, de Manoel de Barros, me tocou muito: em minha psicologia de almanaque, me sinto como o tal menino, simplesmente.
Algumas expressões do poema são parte de minha história de vida. Os espaços vazios e infinitos... querer o impossível e ainda sim querer... enfim, o importante é que acabei escrevendo para continuar carregando água na peneira.
Eis o lindo poema:
O menino que carregava água na peneira
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse
que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o voo de um pássaro
botando ponto no final da frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos
Manoel de Barros
Feliz Dia da Poesia a todos!!
2 Comentários
Clique aqui para ComentáriosManoel de Barros é muito bom! Minha mãe me deu a coleção "Memórias Inventadas", a qual vou ler hoje graças à inspiração desse poema aí.
ResponderAbração!
Ei, Rodrigo! Manoel de Barros é ótimo mesmo! E eu tenho uma afeição especial por este poema. Obrigada pelo apoio, amore! Beijão!
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