Elizabeth Bishop (* 8/2/1911 +6/10/1979 ) //
Embora tenha produzido grande parte de sua obra nos 16 anos em que viveu no Brasil (onde foi condecorada com medalha da Ordem de Rio Branco, em 1971) , nenhum poeta de sua geração foi mais premiado que Elizabeth Bishop nos Estados Unidos.
Ganhadora, entre muitos outros, do National Book Award, do Premio Pulitzer em 1956, do Prêmio da American Academy of Arts and Letters (para onde foi eleita em 1976) foi a primeira mulher e primeiro cidadão norte americano a receber o Premio Neustadt.
Deixou menos de cem poemas, mas o interesse por sua obra só tem crescido. Traduziu, com sensibilidade, a produção de grandes poetas como Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Manuel Bandeira e o livro “Minha Vida de Menina”, de Helena Morley. Mestra na arte da epistolografia, teve sua vasta correspondência transformada em livro traduzido por Paulo Henriques de Britto.
Este poema, A arte de perder, é o predileto de minha querida Cláudia. Posto aqui em homenagem a essas duas grandes mulheres!
“A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério. “
Elizabeth Bishop escreveu contos, ensaios e artigos para a imprensa americana, foi professora e conferencista.
O contraponto desta vida literária consagrada é a história da frágil menina que nasceu em Worcester (Mass.). O pai cometeu suicídio quando ela era um bebê de 4 meses. A mãe enlouqueceu oito anos depois, tendo sido internada por toda vida num hospital psiquiátrico.
Criança tímida e doentia, sujeita a constantes crises de asma e alergia, foi criada no Canadá, pelos rigorosos avós paternos. Mais tarde, segundo suas próprias palavras, foi “resgatada” pela amada tia materna, voltando a morar nos Estados Unidos. Na adolescência, descobriu sua homossexualidade, o que a tornou ainda mais arredia e silenciosa.
Aí começaram, também, seus problemas com a dependência ao álcool. Estudou no Vassar College, onde se formou em 1934. Desfrutou a generosa herança deixada pelo pai em viagens pelo mundo. No início dos anos 50, durante uma viagem de circunavegação pela América do Sul para esquecer desgostos amorosos, decidiu desembarcar em Santos, vindo -em seguida - para o Rio de Janeiro. Aqui reencontrou Maria Carlota de Macedo Soares, a Lota (arquiteta e paisagista amadora, responsável pela obra do Aterro do Flamengo) que havia conhecido em Nova York. A alergia causada pela simples mordida em um caju impediu sua volta na data marcada. Elizabeth Bishop perdeu o navio, mas ganhou hospedagem e carinho de Lota e assim, mudou o rumo de sua vida.
Na Fazenda Alcobacinha, (em Samambaia, município de Petrópolis, distante 75 km do Rio), foi acesa a chama de um relacionamento tempestuoso, cheio de idas e vindas, decepções e desencontros que terminou tragicamente com o suicídio de Lota. Além do “colo” que encontrou na pessoa da companheira e do grupo de intelectuais que a cercava, Bishop se encantou por Ouro Preto, onde comprou e reformou uma casa, hoje um ponto de atração turística: a “Casa Mariana”.
Depois de resolver complicadas pendências judiciárias, relativas à herança que Lota lhe deixou, retornou definitivamente aos Estados Unidos, onde ensinou Poesia em Harvard e na New York University.
Faleceu vítimada pelo rompimento de um aneurisma.
A história destas duas corajosas e interessantes mulheres foi contada por Carmen Lucia Oliveira no livro “Flores raras e banalíssimas" publicado em 1995 e que,traduzido para o inglês pela Rutgers, obteve resenhas muito favoráveis da crítica norte-americana.
Um filme com o mesmo título está em fase de desenvolvimento e roteirização nos estúdios L.C.Barreto.
O monólogo “Um porto para Elizabeth Bishop”, de Marta Goes, com Regina Braga protagonizando a poeta, itinerou pelo Brasil com enorme sucesso, desde de 2001.
O clássico poema "One Art" (A Arte de Perder” na tradução de Paulo Henriques Britto ) - na voz pungente de Bishop em seus últimos dias - foi transformado em vídeo clipe e está disponível para quem tem QuickTime aqui www.learner.org/catalog/extras/vvspot/video/bishop.html
Bibliografia de Elizabeth Bishop:
North and South (1946), A Cold Spring (1955), Questions of Travel (1965), The Complete Poems (1969) The Diary of Helena Morley (tradução), livro de viagem “Brazil “(1962), Anthology of Twentieth-Century Brazilian Poetry: compilação e tradução, com Emanuel Brasil, ”Brazil III(1972) e muitos pequenos contos.
Fonte: Luna e Amigos
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