Moça com brinco de pérola (girl with a pearl earring)




Por Cláudia Pereira // 

Filmes onde existem economia de diálogos em prol da emoção sutil dos personagens estão bem raros hoje em dia. Claro que tudo depende de que tipo de tratamento o diretor e o roteirista irão dar à película. A maioria apela para clichês românticos, outros para tramas confusas sem pé nem cabeça onde a platéia metida à intelectual sai dizendo as besteiras de sempre.

Graças a Deus, Peter Webber foi inteligente o suficiente para fazer deste seu primeiro filme um excelente panorama de emoções contidas, onde os personagens dialogam com os olhos, com a luz e ambientes. O resultado torna “Moça com Brinco de Pérola” completamente apaixonante, de uma delicadeza quase explícita. A reconstituição da época é perfeita, apresentando uma parte técnica mais do que exuberante, desde as roupas até a maquiagem, passando pelas locações.

Baseado no best seller de Tracy Chavalier, o filme recria a história do belíssimo quadro do holandês Johannes Vermmer “Moça com Brinco de Pérola” pintado aproximadamente em 1665, na cidade de Delft – Holanda. A história tem inicio com a ida da jovem Griet para a residência dos Vermeer, onde irá trabalhar como empregada doméstica. A jovem acaba se tornando a musa do pintor, criando inveja na esposa infeliz e estúpida.

Griet na sua simplicidade, oferece á Vermeer um misto de juventude e inteligência, já que ela nutre uma curiosidade natural sobre as cores e texturas . Esse interesse pela pintura acaba tornando-os cúmplices da arte, fazendo surgir uma paixão proibida. A economia das palavras dá lugar à compreensão mútua entre os dois principalmente nas incríveis cenas onde o olhar de ambos cria uma tensão sexual que dispensa maiores gestos. As palavras se tornam desnecessárias, deixando fluir uma cumplicidade contida. Mesmo sem frases ou textos longos, sabemos exatamente o que Griet e Vermeer sentem um pelo outro.



Os enquadramentos elegantes aliada à espetacular fotografia do português Eduardo Serra, fazem com que tenhamos a impressão de que algumas cenas são quadros propositalmente colocados ali pelo diretor. O resultado é impressionante e acaba tornando a fotografia essencial na concepção das imagens.
Quando na cena crucial do filme, Vermeer fura a orelha de Griet, sentimos todo o desejo sexual reprimido...a sensualidade gritante....suor e tintas parecem brincar ao contato das mãos do pintor.

Se não bastasse todo o primor na produção, ainda temos as incríveis atuações do par central. Colin Firth está magnífico, nos dando milhões de sentimentos com o seu olhar envergonhado e ao mesmo tempo apaixonado.
Scarlett Johansson faz um trabalho excepcional. Não é a toa que sua carreira vai de vento em popa. A moça parece realmente saber o que faz e prova isso no seu curto e incrível currículum.

A química entre os dois é impressionante, parece que foram feitos para interpretar tais papeis tamanha é a cumplicidade existente.

A cena em que Vermeer a pinta com o brinco de pérola é difícil de ser traduzida em palavras! O resultado fica ainda melhor...quando visto no fim dos créditos.

E o que dizer de Peter Webber? O cara fez um trabalho sincero e autêntico, conseguindo recriar com fidelidade uma história ainda hoje envolta em mistério. Seu primeiro longa metragem já tem pinta de cult e mesmo sem ter ganhos grandes prêmios, é uma ótima promessa de um diretor ainda inexperiente.
É impressionante saber que na vida real, Vermeer morreu na miséria , a esposa acabou doando seus quadros ao conselho municipal em troca de uma insípida pensão.



Ficha Técnica:

Título Original: Girl with a Pearl Earring
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 95 minutos
Ano de Lançamento (Inglaterra): 2003
Estúdio: Archer Street Productions / Delux Productions / Film Fund Luxembourg / Pathé Pictures Ltd. / UK Film Council / Wild Bear Films
Distribuição: Lions Gate Films Inc.
Direção: Peter Webber
Roteiro: Olivia Hetreed, baseado em livro de Tracy Chevalier
Produção: Andy Paterson e Anand Tucker
Música: Alexandre Desplat
Fotografia: Eduardo Serra
Desenho de Produção: Ben van Os
Direção de Arte: Christina Schaffer
Figurino: Dien van Straalen
Edição: Kate Evans

Elenco:Colin Firth (Johannes Vermeer)
Scarlett Johansson (Griet)
Tom Wilkinson (Van Ruijven)
Judy Parfitt (Maria Thins)
Cillian Murphy (Pieter)
Essie Davis (Catharina)
Joanna Scanlan (Tanneke)
Alakina Mann (Cornelia)
Chris McHallem (Pai de Griet)
Gabrielle Reidy (Mãe de Griet)
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