Luxo e precariedade dividem espaço no bairro Ponta Negra, em Manaus

Orla da Praia da Ponta Negra. Foto: Juçara Menezes

Com um metro quadrado que vale entre R$ 6 mil e R$ 7 mil, o bairro Ponta Negra é uma das localidades mais caras de Manaus.

MANAUS – Em uma área da capital do Amazonas cujo metro quadrado vale entre R$ 6 mil e R$ 7 mil, o bairro Ponta Negra é uma das localidades mais caras da cidade. Com uma especulação imobiliária crescente – devido à vista privilegiada do rio Negro e a reinauguração da primeira parte do balneário e da praia perene (realizado pela Prefeitura de Manaus) -, o local na zona Oeste está tão valorizado quanto bairros da região Centro-Sul da cidade, zona mais bem avaliada de Manaus.

Os preços das residências e comércios entre a Ponta Negra e o Adrianópolis, por exemplo, são bastante similares.De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Amazonas (Sinduscon-AM), Eduardo Lopes, o desempate acontece quando é considerada a estrutura oferecida por ambos os bairros. “A Ponta Negra tem uma estrutura muito agradável, mas faltam hospitais e padarias, por exemplo, e aí a vantagem é do bairro Adrianópolis”, explicou Lopes.

Esse cenário de reduzido acesso a serviços pode mudar em breve. Um grande centro de compras está em construção no bairro. Previsto para inaugurar no segundo semestre deste ano, o Shopping Ponta Negra já recebeu financiamento de R$ 107,6 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Voltado ao público de alto poder aquisitivo, o empreendimento já confirmou a entrada de marcas inéditas na capital amazonense  como a Osklen, Animale, Farm, Água de Coco, Pobre Juan, rede Cinépolis (com 12 salas de cinema, sendo uma 3D e quatro vips) e Livraria Cultura.

Nova praia, velhos tempos

Proprietário de um apartamento em um dos prédios de luxo da Ponta Negra, um morador (que prefere não se identificar) reside quase em frente ao Anfiteatro da praia. Questionado sobre as vantagens e desvantagens de morar na área, ele disse ter uma ‘relação de amor e ódio’ com o lugar. “Quando há festas, temos uma visão privilegiada. Mas, ao mesmo tempo, o barulho dificulta o momento de descansar. Além disso, o trânsito também não é dos mais fáceis”, avaliou.

Ricardo de Carvalho aproveita a vista do rio Negro. Foto: Juçara Menezes / Portal Amazônia

Os turistas também têm suas ressalvas em relação ao lugar. Hospedado em um hotel de luxo às margens do rio Negro, Germano Sgarioni afirma ter escolhido o local pelas belezas naturais. A vista de uma parte da floresta ainda intacta empolgou o funcionário público. No entanto, ele afirmou que “a diferença entre a parte rica e a mais humilde” de Manaus não passou desapercebida. O paulistano de Jundiaí, Ricardo Carvalho, concorda com Sgarioni quando o assunto é beleza visual. Ele aproveitou a piscina infinita para deslumbrar o rio Negro.

Mesma zona, outra história

Antes da grandeza dos edifícios com vista frontal para o rio Negro, outro tipo de residência pode ser vista: casas mais simples, carentes de reformas, em ruas estreitas e de pouca luminosidade. A falta de segurança também faz parte do cotidiano. Moradores do Conjunto Residencial Ayapuá denunciam a sensação de medo, apesar da queda no número de assaltos. A ex-moradora do local, Andrea Santos, admitiu não ter aguentado a pressão. “Acabei por sair de um bom apartamento, muito bem localizado, em troca de bem-estar. Hoje durmo mais tranquila”, contou.

A estrada que leva à praia apresenta também outros problemas. A zona Oeste da capital ainda é a mais visada pelos invasores, por contar com a Área de Proteção Ambiental (APA) do Tarumã, bairro vizinho da Ponta Negra. A região possui mais de 22 mil hectares de extensão e foi alvo de uma das invasões mais repercutidas dos últimos anos, quando 1.472 famílias ocuparam, em março de 2010, uma área de 21 hectares.

Não muito longe dali, a equipe do portalamazonia.com chegou à Marina do David, um pequeno porto localizado após o majestoso complexo hoteleiro. A primeira visível diferença é a falta de infraestrutura – ausência de ônibus até o local e rua com pavimentação precária.

Um dos moradores antigos do lugar, Alceny Alencar, conta as vantagens da Marina. “Aqui não tem ladrão, à noite fica frio e pela manhã não é tão quente. Podemos dormir tranquilos. Se por acaso vem alguém com o som do carro muito alto, chamamos a Polícia – e a autoridade sempre vem. Tenho meu comércio, a ‘patroa’ tem o dela e temos nossa casa”, assegurou.

Movimento na Marina do David. Foto: Juçara Menezes/Portal Amazônia

Agitada, a Marina é passagem para seis comunidades (Agrovila, Nossa Senhora de Fátima, Livramento, Julião, Benezé e São Sebastião). Vivendo de indas e vindas dos viajantes, o comércio oferece itens de primeira necessidade, como água e comida; produtos para lazer (roupas de banho, toalhas, bóias e até mesmo óculos de sol) e a tradicional cerveja com peixe assado.
Vários barcos motorizados vão e vem a todo instante. Com a subida das águas do rio Negro, uma ponte foi construída pelos próprios moradores e comerciantes. “A vida passa um pouco mais lenta e é por isso que não penso em me mudar”, finalizou Alencar.

Juçara Menezes - jornalismo@portalamazonia.com
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