[RESENHA] Quase tudo - Danuza Leão



Por Cláudia Pereira //

Danuza Leão é chique. Danuza é linda. Danuza é cool. Enfim, tanto se falou dela que pensei tratar-se de uma lenda urbana.

Danuza vive, respira e assim como eu e vc já teve dores, perdeu amores, enfrentou contradições, perdeu um filho, pai , mãe, irmã....

No entanto, apesar de tantas perdas, ela conseguiu abrir sua intimidade e aqui nos torna cúmplices da sua trajetória rumo a si mesma.

A vida de Danuza, cheia de riquezas, de detalhes ligados ao universo “society” quase nos faz acreditar que a vida é bela. Mas, nem mesmo pra ela a vida se mostrou fácil. Pelo contrário, Danuza teve depressões, bebeu para esquecer a sua dor, fez terapia para reaprender a viver...e hoje se mostra uma mulher amadurecida e ainda bonita aos setenta e dois anos de idade.

Manequim, apresentadora de tv, atriz, colunista, mãe, esposa, filha, irmã. Danuza foi quase tudo...e quase chego a dizer...que esta mulher alcançou algo que poucas pessoas conseguem alcançar: as estrelas.

Ver Danuza ainda soltando farpas sobre a vida e o amor é algo de extremo prazer, não se poder negar ser esta mulher quase um símbolo.

“Quase Tudo” pode parecer frescura, mas não é. Contando sua vida, sua rotina, falando de seus amores, esta biografia acaba por se tornar um relato franco e verdadeiro de uma vida rica em detalhes .

Danuza continua sendo bela , mas depois de ler esta reflexão autobiográfica, posso afirmar ter se tornado uma mulher que verdadeiramente admiro...Bela, mordaz, sofrida. Tanto faz, Danuza sempre terá um brilho diferente...algo capaz de deixar lágrimas nesta suas páginas repletas de recordações .

Coloco aqui, um dos textos mais inspirados da eterna musa trágica e moderna.. Danuza. .


É LINDO....

Houve um tempo em que se namorava muito e se pensava que se sofria muito – por amor, claro. As paixões se acendiam, embaladas pelas músicas do momento, que faziam parte integrante de nossas vidas.
Quando, numa reunião - havia muitas reuniões nessa época - , os olhares se cruzavam, enquanto se ouvia “se você quer ser minha namorada, ai que linda namorada você poderia ser”, o coração se derretia e era hora de ir ao banheiro com uma amiga, só para contar.

Uma bebidinha daqui, muitos sorrisinhos dali, e, na décima vez que o disco tocava e chegava no trecho “mas se em vez de minha namorada você quer ser minha amada, mais amada pra valer”, e ele olhava de longe, desta vez sério, o coração só faltava sair pela boca.

Muitos anos e muitos amores depois, foi a vez de Roberto Carlos participar de todos os romances: “Você foi o maior dos meus casos, de todos os abraços, o que eu nunca esqueci” – ah, uma boa dor-de-cotovelo ouvindo Roberto.

Quem nunca passou por isso não sabe o que é viver ...

Num início de caso – em altíssima voltagem ! – entrava Chico com "quero ficar no teu corpo como tatuagem” – e quem não queria ?

E, no fim do caso, dava para agüentar “as marcas de amor dos nossos lençóis” ?

Se ouvia muita música e, a noite, se ia sempre ao mesmo bar, onde um pianista tocava o que se tinha ouvido a tarde inteira; como todos se conheciam e sabiam das vidas uns dos outros, o pianista – Vinhas, quase sempre - atacava a “nossa” música ... aquela !

A noite prosseguia com os olhos grudados na porta, para ver se ele entrava.

Se entrasse sozinho, era hora de ir ao toalete, não para retocar a maquiagem, mas para respirar fundo e jurar, mas jurar de pés juntos que não ia nem olhar para o lado dele. A madrugada se encarregava de mudar os planos.

Depois, veio “Deixa em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa”. As músicas diziam tudo o que não se tinha coragem de dizer, e era como se falassem por nós. Que mulher não cantou baixinho, depois que ele foi embora, “quando você me deixou, meu bem, me disse pra ser feliz e passar bem”,e não fantasiou que quando ele ouvisse “e tantas águas rolaram, tantos homens me amaram, bem mais e melhor que você” ia imediatamente pensar nela, quem sabe sofreria, quem sabe teria uma crise de ciúmes e pegaria o telefone de madrugada? Quem sabe ... quem sabe ?

E quando ela se “enrolou” toda com a chegada de um namorado que não esperava e ficou repetindo o disco, no trecho que dizia “se na bagunça do teu coração”, para ver se ele entendia que o coração, às vezes, vira mesmo uma verdadeira bagunça, como o dela, naquele momento ?

Ah, Chico, ah, Roberto; vocês algum dia souberam que tinham sido tão importantes na nossa vida ? Pois fiquem sabendo: foram.

Nesse tempo as moças não levavam os namorados para dormir em casa, ou porque tinham pais ou porque tinham filhos; para isso havia os motéis.

E do primeiro a gente nunca esquece ... A cama redonda com cabeceira de curvin, a piscina – uma banheira de 2 x 2 – o som embutido na cabeceira e, sobretudo, o clima, um clima de pecado que as moças da zona sul adoravam.

Quando Roberto cantava “Amanhã de manhã vou pedir um café pra nós dois, te fazer um carinho e depois te envolver nos meus braços” e ele deixava “o café esfriando na mesa, esquecemos de tudo” e vinha o “pensando bem, amanhã eu não vou trabalhar, e além do mais, temos tantas razões pra ficar”, não era preciso dizer nada: era a hora do telefonema para a empregada às 6 da manhã para que ela desmanchasse a cama e dissesse que você saiu cedo para buscar uma amiga no aeroporto, lembra ? Grandes tempos.

Hoje a gente olha para trás e pensa: mas essas paixões existiram mesmo ?

Sem Chico e sem Roberto teriam havido tantas, tão intensas e tão arrebatadoras ?

Delas a gente até esqueceu, mas não do que se sentia ao ouvir “mas eu estou aqui vivendo este momento lindo”.

E dá para viver momentos lindos hoje, ouvindo os Racionais MC ?

Pensando bem, o grande combustível de nossos corações foram as canções de Chico e Roberto.
E, olhando para trás, é bem possível que a certeza de que “ se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi ” não existiria sem a música de Roberto. Foi bom demais ter vivido esse tempo.

Danuza.
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