[RESENHA] Como ser legal (How to be good), de Nick Hornby



Por Cláudia Pereira //

Depois de uma longa temporada sem ter tempo para literatura, resolvi colocar a minha vida em dia e me dedicar a algo que realmente vale a pena.

Comprei este livro já imaginando que iria acabar me perdendo das horas, porque sou mesmo daquele tipo de pessoa que quando se apaixona por algo... vai a fundo. Talvez seja por isso que os discos do Placebo não param de tocar. Mas, agora, a minha banda preferida tem companhia. Pode parecer estranho, mas ouvi-los lendo “Como ser legal” é algo bem diferente.

Nick Hohrny sempre foi um dos meus preferidos, seus livros me chamavam a atenção por um motivo bem simples: gosto da linguagem moderna e do universo pop que habita o mundo do escritor.

Mas eu nunca havia tido coragem de comprar algo... afinal de contas, havia outras coisas em que eu estava mais interessada. Festas lá por casa, amigos, bebidas... comemorações sem fim.

Felizmente entrei no findi de saco cheio de tudo isso. Na quarta entrei numa livraria bacanuda e resolvi adquirir algo que fizesse pensar.....

“Como ser Legal” pode parecer um livro desses de auto-ajuda, mas quem comprá-lo com esta idéia irá se espantar com a batata quente que terá nas mãos.

Porque o livro é a antítese do que pode ser considerado livro de auto-ajuda. Ele definitivamente nos deixa matutando sobre nossos valores, sobre o que gostamos e odiamos..e o mais intrigante...nos faz perceber que assim como a personagem central...tb podemos não ser tão legais como imaginávamos.

Vamos à história.

Desse vez Nick Horny resolve colocar no centro uma personagem feminina. Katie Carr é uma médica bem sucedida, casada com David (um homem dado às explosões de humor) e dois filhos mimados e indiferentes.

Katie não está feliz e pensa constantemente em mudar de vida, seu casamento é ruim e entre ela e David não existe mais nenhuma mágica.

David por sua vez, também não está feliz, mas prefere manter o casamento a todo custo, mesmo que para isso tenha que tornar a vida de Katie um inferno.

Katie se acha legal. É boa mãe, boa esposa, paga seus impostos, enfim... não há nada capaz de desfazer esta imagem perante à si mesma.

As coisas mudam drasticamente de figura quando David se converte a um novo tipo de pensamento e se transforma num homem gentil, educado, apaixonado e preocupado com o bem estar da humanidade. Assim, lhe parece perfeitamente normal doar tudo aquilo que ele acha ser dispensável: computadores, roupas, comidas. Pra piorar a situação, ele ainda coloca pra dentro de casa o curandeiro responsável pela mudança: Dj Boas Novas.

Têm início os choques de valores e verdades entre o casal. Katie começa a se questionar sobre sua verdadeira identidade, a ponto de colocar em cheque toda a relação com os pais.

O mais intrigante é que me senti irremediavelmente como Katie. Afinal de contas, como viver em paz consigo mesmo quando se é obrigado a conviver com a miséria ? Será certo torrar grana com livros, cd’s e roupas... quando existem milhões de crianças sem tem o que comer?

Enfim, “Como ser Legal” me fez refletir um bocado. Também me fez rir principalmente das ironias destiladas por Katie nos seus momentos de maior sofrimento:

: "Começo a pensar em todas as coisas que não funcionavam do jeito que funcionam agora e não sei bem como se sinto a respeito disso. Uma delas é que David gastava muito dinheiro com cds e livros... e agora ele perdeu completamente o interesse por isso tudo. Interiormente eu gostava de morar com uma pessoa que sabia como Liam Galagher ganhava a vida, e agora isso se foi".

Nick Hornby continua sendo um dos meus escritores preferidos, gosto do jeito como escreve, de como faz a Inglaterra parecer bem perto do meu bairro. A distancia não existe e de repente, me vejo compartilhando do gosto musical da sua personagem que curte ouvir Air.

Desfrutar de algo assim é algo realmente gratificante. Descobri que sinto prazer em minha própria companhia, percebi que preciso de um tempo para fazer as coisas que tanto gosto...e o mais importante, é bom colocar a minha cabeça no lugar e curtir a companhia de Jú sem tanta gente por perto.

Não aprendi muito como ser legal no fim de semana (tenho cá minhas dúvidas se eu posso ser considerada alguém legal), mas com certeza...aprendi a deixar o tempo correr sem olhar para o relógio da parede....curtindo um bom livro...uma boa música...longe do mal estar causado pelas bebedeiras intermináveis.

Nunca é tarde para se mudar velhos hábitos.

Nunca é tarde para retomar algo que havia sido deixado para trás.
Proxima
« Anterior
Anterior
Proxima »
Obrigado pelo seu comentário