por Cláudia Pereira //
O Fantasma é um daqueles filmes bombásticos que causam verdadeiro burburinho por onde passa. O frisson é compreensível, pois o filme apresenta muitas cenas quentes de sexo entre homens.
Mesmo soando meio abusivo, é inegável que o filme prende a atenção. O Fantasma prova que todos nós somos um pouquinho voyeurs.
Sérgio (Ricardo Menezes) é um homossexual solitário que trabalha em Lisboa como lixeiro. Avesso a contatos mais íntimos, busca em parceiros sexuais uma carência afetiva jamais preenchida. Durante uma noite de trabalho, Sérgio conhece um motoqueiro que vem a ser o fantasma sempre presente em seus sonhos. Obcecado pelo jogo da conquista, ele se embrenha numa disputa erótica que culmina em sua total desumanização como ser humano.
A impossibilidade do amor termina por transformá-lo na personificação da vingança.
Bastante elogiado pela crítica americana, O Fantasma, prima pela interpretação exuberante de Ricardo Menezes, que alia sua beleza máscula a uma total entrega de corpo e alma. A forma como se despe de todas as vaidades chega a ser impressionante.
A direção de João Pedro Rodrigues prima por mostrar uma Lisboa distante de muitos de nós. O labirinto da cidade sempre tão bela surge completamente oculta pela escuridão do personagem, que parece buscar em cada esquina uma redenção que o leve ao orgasmo supremo de si mesmo.
Forte, intenso e quase insano, O Fantasma surpreende por mostrar um sexo masculino pouco acessível a nós mulheres.
Concordo com a definição dada pelo próprio diretor:
“O Fantasma não é um filme sobre os homens do lixo. Eles são apenas a âncora do real de onde partir para a ficção. Uma ficção sobre a brutalidade do desejo e a impotência face a rejeição.”
Visto desta forma, a produção deixa de ser algo dirigida ao universo gay, para se tornar o retrato de uma sociedade cada vez mais avessa a contatos humanos e focada na eterna realização de seus impulsos carnais e auto destrutivos.
Fonte: Poltrona Cinemaníaca
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